Ori – Morada Secreta do Ser Humano
Divindade do Ser Humano
“Orí” (cabeça) é o local de armazenamento de todos os requisitos do ser humano. Todo esse guardado, se danificado for, torna-se irrecuperável.
Em face de ser a divindade privativa da vida individualizada que acompanha o ser humano da natividade até o perecimento, referenciando sua jornada e presenciando a observância de sua existência, o Tratado de Ifá ratifica que o “Orí” deve ser o primeiro a ser louvado.
Afirma também que o ser humano, que desejar atrair coisas boas para a sua vida, deve agraciar seu Ori. É necessário que o mesmo concorde com pretexto do ser humano, senão nada poderá ser feito. Sendo assim, o que Ori (cabeça) não aprova, não pode ser outorgado por Olodumarê (Deus), sequer por nenhum eborá (ancestral deificado) ou orixá (espíritos de luz que não tiveram vida terrena). Tal afirmação é ratificada em um dos ditados da sabedoria ioruba que nos ensina:
“Orí wà enití àye yàsápakan.”
(Ori ua eniti aiê iiasapacan)
“Ori é quem muda a direção da vida”.
Segundo a Tradição Nagô Ioruba, o Ori (cabeça) do ser humano se divide em duas partes. Essas divisões são constituídas por cinco elementos:
Ori ode (Orí Òde): caixa óssea que encerra e protege o cérebro.
Ori inú (Orí inú): interior da caixa craniana; local onde fica o cérebro (mùdùnmúdùn). Tido como a morada do Criador, em face da história da criação do homem que diz que “através das narinas Olódùmarè insuflou seu hálito sagrado dando a vida ao ser humano”.
Ori okê (Orí òké): o alto/centro da cabeça.
Ori iuajú (Orí iwáju): a face, fronte ou presença – a visão.
Ori ipakó (Orí ìpakó): parte inferior e posterior do crânio.
Ori otúm (Orí òtun): o lado direito do cérebro.
Ori osí (Orí òsi): o lado esquerdo do cérebro.
Ainda segundo a mesma tradição, o ser humano se divide em:
Ara: corpo físico – materialização do espírito no planeta Terra.
Òjìji: sombra – representação externa do espírito que perece quando da morte do ser humano.
Acredita-se que a sombra de uma pessoa é a imagem do seu Elêdá Alaabô (Elédá Alãbò – Espécie de anjo guardião) nos seguindo aonde formos.
Ócam (Okàn): tida como a alma ou espírito do ser humano.
Émi (Èmí): vida/respiração.
Élédá – partícula do Ser Supremo.
O principal arquiteto do nosso destino, tanto no Sanmá (o infinito) como no aiiê (o planeta Terra) é o nosso ”Elédá” (partícula do Ser Supremo). É quem nos acompanha antes da vinda do infinito para o mundo. É também quem determina a data exata em que devemos retornar ao “Sànmá” (infinito) para prestarmos contas dos nossos atos.
Segundo a tradição nagô ioruba, quem segue a direção e as instruções de seu ”Elédá” nunca se perde. Todas as criaturas animadas por Deus têm seu anjo guardião individual – Malecá olútojú. Esses guardiões habitam o infinito (sànmá) e deste espaço os guardam e vigiam em todas as atividades na terra.
Orí Méjì[1]
Há de se esclarecer que ser considerado “Orí Méjì” (cabeça dupla ou repetida) não é possuir duas cabeças, e sim duas energias espirituais atuando ao mesmo tempo e em igualdade na cabeça (ori) de uma pessoa, e isso não indefere de gênero. Vejamos: Possuir dois ancestrais masculinos (exemplos: Ogum e Odé), dois femininos (exemplo: Oxum e Ieiemója), um masculino e um feminino (exemplo: Xangô e Oia). A condição de macho e fêmea não codifica a concepção de “pai e mãe de cabeça”, percepção esta aplicada pelo Omólocô e pela Umbanda.
Algumas pessoas codificadas como cabeça dupla (orí méjì) podem perfeitamente ser consagradas para ambos, podendo desta forma harmonizar a igualdade das energias das duas ancestralidades, entretanto, não pode ser esquecido que cabeça (orí) é uma só, assim sendo, há de respeitar a condição “Olôrí Adoxú” (Olorí Adósù).
[1] Também chamada de “Orí éèjì”.